A MANIFesta de Santarém
A ideia da MANIFesta surgiu em Novembro de 1993, numa reunião em Santarém – os Estados Gerais do Desenvolvimento Local (nome inicialmente pensado para designar a própria MANIFesta, mas abandonado devido à apropriação da expressão “Estados Gerais” por um partido) – convocada por Alberto Melo, Acácio Catarino, José Manuel Henriques e José Portela. Compareceram cerca de trinta pessoas em nome individual ou representando entidades locais, com muitas e diversificadas posturas, opiniões e visões sobre as prioridades do Desenvolvimento Local, mas sentindo a necessidade de realizar algo que ampliasse a reflexão e a visibilidade das Organizações e Iniciativas de Desenvolvimento Local.
Realizada em recinto fechado entre os dias 5 e 8 de Outubro de 1994, por um Conselho Promotor da MANIFesta, com meios escassos e sem experiência, ela constituiu um enorme êxito, que surpreendeu os mais optimistas. Tendo como ponto de partida a incipiente reflexão comum iniciada dois anos antes no Encontro do Mezio por um número reduzido de pessoas e associações, a realização e o êxito da MANIFesta de Santarém foi o ponto de partida para o nascimento do Movimento de Desenvolvimento Local em Portugal. Pessoas e associações sem hábitos de trabalho e reflexão comum consolidados descobriam que não estavam sozinhos e provavam as potencialidades do trabalho em rede e que no tempo entretanto decorrido já haviam adquirido uma base de reflexão comum, que não estavam isoladas e tinham adquirido uma considerável capacidade organizativa e de animação cultural e cívica.
O êxito aconselhou a continuidade da iniciativa e o desenvolvimento/enriquecimento da ideia MANIFesta.
Do documento produzido pela primeira MANIFesta, as Conversas Inacabadas, conjunto de constatações e recomendações, destacamos: “o desenvolvimento local não é uma nova ideologia, é uma afirmação de diversidade, é o esforço para impedir que a sociedade se feche a partir das lógicas economicistas… Não pode ser entendido e praticado como alternativa para a auto-desresponsabilização do Estado… A avaliação (do Desenvolvimento Local) não deve ser entendido como uma mera enumeração das actividades realizadas nem referenciar-se exclusivamente a objectivos definidos no início do projecto ou acção… Deve ser entendida de forma dinâmica, constituindo-se como um mecanismo de reflexão permanente sobre o que está a acontecer e as mudanças produzidas.”
A MANIFesta de Santarém contou com 71 stands e 313 inscrições individuais; debateu para onde vai o Desenvolvimento Local em Portugal, como se organizam os cidadãos para o Desenvolvimento Local, as suas políticas e instrumentos, o Estado e os actores locais, as minorias, a escola, a formação e emprego, etc.
A animação cultural contou com a participação de grupos de teatro, música popular, ginástica, dança, passagem de modelos, ranchos folclóricos, rap, de José Mário Branco, Amélia Muge, Trigo Limpo/ACERT e outros.